CONVERSAS DE CABECEIRA | Medo

Costumam dizer que quanto mais sofremos, mais cautelosos nos torna-mos, que quanto mais tristeza sentimos, mais cuidadosos ficamos. No entanto, como é que na vida podemos ser assim tão cautelosos, como é que podemos ficar assim tão atentos ao ponto de não nos magoarmos facilmente? O simples facto de estarmos vivos já torna real o facto de nos podermos magoar a qualquer momento, seja porque motivo for. 
Devido ao que sofri, eu já me tornei uma pessoa mais fria, mais fechada, uma pessoa que não acreditava realmente que podia ser feliz, afinal o que acabamos por pensar é que talvez nós não mereçamos ser felizes, não mereçamos sentirmo-nos realmente bem. Eu cheguei ao ponto de ter medo, medo do futuro, cheguei ao ponto de deixar o medo controlar a minha vida, as minhas ações, as minhas relações, os meus sentimentos. porque eu tinha tanto medo de me magoar, de falhar, tinha tanto medo de me desiludir e de desiludir as pessoas, que deixava de fazer as coisas, deixava de acreditar que era capaz, deixava de acreditar que merecia algo ou alguém, deixava de lutar pelas coisas. 
Por vezes temos tanto medo do que pode ou não vir acontecer, que acabamos por deixar o medo controlar a nossa vida mas, apesar de ter medo ser algo normal e em parte, ser saudável, porque é aquele que nos faz ter cuidado, não devemos deixar que ele nos domine, não devemos deixar de acreditar em nós, na nossa felicidade, nos nossos sonhos.
A verdade é que por muito cuidado que tenhamos, por mais cautelosos que sejamos, podemo-nos sempre magoar, podemos sempre sofrer, então ao menos que esse sofrimento venha depois de termos tentado ser felizes, depois de termos lutado por algo em que acreditávamos, que venhamos depois de termos vivido uma relação fantástica com alguém, porque agora depois de ter aprendido que ter medo é normal, que sofrimento ainda vai fazer parte da minha vida, eu prefiro ao menos saber que no final, eu tentei, eu passei a minha vida com mais momentos bons, com mais tentativas de ser feliz, de alcançar todos os meus sonhos, do que passar dez anos e me arrepender de tudo o que não tentei fazer, de tudo o que não arrisquei fazer por medo do que pudesse acontecer, arrepender-me de não ter tentado ser feliz.

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